Qual Bíblia os Apóstolos liam?

Você sabia que a Bíblia usada pelos apóstolos e os primeiros cristãos não era em hebraico? Que ela foi traduzida por 70 sábios, numa ilha isolada, em segredo e que essa versão pode mudar a forma como você entende o próprio Jesus?

Brubru

5/23/20254 min read

Qual Bíblia os Apóstolos liam?

Você sabia que a Bíblia usada pelos apóstolos e os primeiros cristãos não era em hebraico? Que ela foi traduzida por 70 sábios… numa ilha isolada… em segredo… e que essa versão pode mudar a forma como você entende o próprio Jesus?

Essa é a história da Septuaginta (LXX) — uma tradução esquecida, teologicamente poderosa e historicamente transformadora. Se você acha que já conhece a Bíblia, prepare-se… porque essa versão antiga pode virar tudo de cabeça para baixo.

O Começo de Tudo: Alexandria, Século III a.C.

Imagine Alexandria, no Egito, no século III antes de Cristo. Uma cidade vibrante, multicultural, onde egípcios, gregos e judeus conviviam diariamente. Muitos judeus da diáspora já não falavam hebraico — falavam grego.

Foi nesse contexto que nasceu um projeto ambicioso: traduzir as Escrituras Sagradas dos judeus para o grego.

Quem idealizou isso? Ninguém menos que Ptolomeu II Filadelfo, rei do Egito helenizado, que queria uma cópia da “Lei dos Judeus” para a Biblioteca de Alexandria.

Segundo a lendária Carta de Aristeas, 72 sábios foram enviados de Jerusalém, colocados em quartos separados e, após 70 dias, apresentaram traduções idênticas.

Lenda? Milagre? Propaganda? Talvez tudo isso junto. Mas o impacto foi real — e duradouro.

Evidências Arqueológicas: O Que a História Diz? Era a bíblia dos apóstolos?

Mas como sabemos que a Septuaginta tem base real?

A resposta está na arqueologia. Fragmentos de papiros bíblicos em grego — datados do século II a.C. — foram encontrados no Egito. Ainda mais reveladores foram os achados em Qumran, na região do Mar Morto.

Os Manuscritos do Mar Morto, datados de 250 a.C. até 70 d.C., incluem cópias de quase todos os livros do Antigo Testamento. E aqui está a surpresa: muitos desses textos hebraicos são mais próximos da Septuaginta do que do Texto Massorético.

Isso prova que a LXX não é uma tradução grega liberal. Ela reflete uma linhagem textual hebraica legítima, que era usada e respeitada pelos judeus do Segundo Templo. Em outras palavras, ela preserva uma versão autêntica e antiga das Escrituras.

Texto Massorético: A Versão Hebraica Padronizada

Séculos depois, entre os séculos VI e X d.C., surgiu o Texto Massorético (TM). Desenvolvido por escribas judeus chamados massoretas, esse texto trouxe uma padronização definitiva da Bíblia Hebraica.

Eles adicionaram vogais, marcas de pronúncia e criaram um sistema rigoroso de cópia para garantir a precisão. O manuscrito completo mais antigo do TM é o Códice de Leningrado, de 1008 d.C., que serve como base para as traduções modernas do Antigo Testamento.

No entanto, o TM exclui os livros deuterocanônicos e apresenta diferenças relevantes em relação à Septuaginta, inclusive em passagens citadas no Novo Testamento.

Diferenças Que Mudam Tudo

Essas divergências entre LXX e TM vão muito além da linguagem — elas afetam diretamente a teologia e a doutrina cristã. Veja só:

  • Isaías 7:14: A LXX traduz o termo hebraico “almah” como “parthenos” — ou seja, “virgem”: “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho”. No TM, a palavra significa apenas “jovem”. Quando Mateus escreve em 1:23 sobre o nascimento virginal de Jesus, ele está claramente citando a Septuaginta.

  • Salmos 14:3: A versão grega traz um trecho expandido sobre a depravação humana — parte que Paulo cita em Romanos 3:10-18. Esse trecho não aparece no TM.

  • Jeremias: A LXX do livro de Jeremias é cerca de 1/8 mais curta do que no TM e apresenta outra ordem dos capítulos. Os Manuscritos de Qumran mostram que ambas as versões circulavam entre os judeus.

  • Cânon bíblico: A Septuaginta inclui livros como Sabedoria, Eclesiástico, Baruc, Tobias e 1 e 2 Macabeus — rejeitados posteriormente pelos rabinos judeus, mas amplamente usados pelos cristãos primitivos.

A Bíblia dos Apóstolos: A Escolha da Igreja Primitiva

Aqui está o ponto decisivo: os apóstolos e escritores do Novo Testamento usavam a Septuaginta.

Mais de 80% das citações do Antigo Testamento nos evangelhos, nas cartas de Paulo, em Hebreus e no Apocalipse vêm da LXX. Isso mostra que a igreja primitiva adotou a Septuaginta como sua Bíblia oficial.

Ela era lida nas sinagogas da diáspora, ensinada nas comunidades cristãs e usada até mesmo por Jesus, que frequentemente citava textos com vocabulário e estrutura típicos da versão grega.

A Rejeição Judaica: Quando a Bíblia Passou a Dividir

Curiosamente, a mesma Septuaginta que uniu os judeus da diáspora acabou se tornando um ponto de ruptura.

Por quê? Porque os cristãos começaram a usá-la para provar que Jesus era o Messias prometido. Versículos como Isaías 7:14, que fala da “virgem”, ganharam nova luz — luz cristológica.

Após a destruição do Templo em 70 d.C., os rabinos tomaram uma decisão clara: reforçar o uso exclusivo do texto hebraico. A Septuaginta foi rejeitada no judaísmo e passou a ser identificada com o cristianismo.

Mas o estrago — ou a semente — já estava lançado. A LXX já havia se tornado a base teológica do cristianismo nascente.

A Septuaginta Ainda Fala

A Septuaginta não é apenas uma tradução antiga. Ela é uma cápsula do tempo, um elo entre mundos que pareciam inconciliáveis: Jerusalém e Atenas, hebraico e grego, judaísmo e cristianismo.

Entender sua origem e impacto é essencial para compreender por que sua Bíblia é como é hoje — e como as Escrituras moldaram a fé desde o início.

O passado nunca foi tão relevante.

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